Os vinhos crus de Beaujolais são um brinde à essência da França, trazendo o sabor inconfundível de cada apelação
Beaujolais é uma prestigiosa região vinícola localizada na França, mais especificamente ao sul da Borgonha. Cobre uma vasta área, desde o sul de Mâcon até o norte de Lyon, representando 14.500 hectares de videiras situadas em 12 AOCs (sendo 10 Crus). Este pitoresco território é conhecido mundialmente pela produção de vinhos de alta qualidade, principalmente os elaborados com a uva Gamay (97%).
Região de Beaujolais
Os produtos de Beaujolais são principalmente tintos e são caracterizados por serem leves, frutados e fáceis de beber, tornando-os muito populares. Além disso, normalmente não requerem um longo envelhecimento, podendo ser consumidos jovens.
Um dos eventos mais emblemáticos da região de Beaujolais é o Beaujolais Nouveau Day (Dia do Beaujolais Nouveau), que acontece na terceira quinta-feira de novembro de todos os anos. Nesse dia, os produtores liberam seus Beaujolais Nouveau para venda. É o primeiro vinho da França liberado no mercado. Um fermentado leve e jovem que é produzido apenas algumas semanas após a colheita. A celebração marca a nova safra e é uma grande festa que envolve apreciadores de todo o mundo.
A área de Beaujolais também possui dez crus, que são áreas especiais com características distintas. Entre os mais conhecidos estão Brouilly, Morgon, Fleurie, Moulin-à-Vent e Juliénas. Os vinhos crus são geralmente considerados de qualidade superior e podem apresentar maiores complexidades de aromas, sabores e intensidade das estruturas.
Além da vinha, Beaujolais é uma região rica em história e cultura. Seus belos campos de vinhedos, cidades pitorescas, propriedades históricas e excelente culinária fazem da apelação um destino turístico muito popular.
Beaujolais é uma joia da vinicultura francesa. Seus vinhos frescos e aromáticos, combinados com a beleza natural e a rica cultura local, tornam a região uma escolha imperdível para qualquer amante de vinhos.
Crus de Beaujolais
O território de Beaujolais, também é conhecido por seus "crus", que são áreas geográficas específicas dentro da localidade que produzem vinhos com características únicas. Existem 10 crus, cada um com seu próprio caráter distinto:
Brouilly:
Este é o maior e mais meridional dos crus. Os vinhos de Brouilly tendem a ser aromáticos, com notas de frutas vermelhas e uma textura sedosa. Por vezes apresentam notas minerais, que expressam na perfeição o bouquet da Gamay.
Côte de Brouilly:
Localizado em uma encosta acima de Brouilly, o Côte de Brouilly produz vinhos mais estruturados e minerais graças ao seu solo de granito azul. Os vinhos são generosos com taninos delicados e aromas que evocam pimenta, pequenos frutos pretos macerados e notas minerais.
Régnié:
Classificado como cru em 1988, é o mais jovem dos crus Beaujolais. Régnié é conhecido por vinhos suaves e redondos com notas de frutas vermelhas e especiarias. As vinhas estão plantadas em encostas a uma altitude média de 350 metros, viradas a sudeste. Os vinhos desta denominação são leves, fáceis de beber e ricos em elementos minerais, muito aromáticos, amadurecendo rapidamente.
Morgon:
É conhecido por seus vinhos robustos e complexos que podem envelhecer bem. Com vista para o Mont du Py, é um dos maiores crus Beaujolais. A famosa Côte du Py é composta de xisto decomposto. Os vinhos da denominação oferecem aromas de frutas de caroço como ginjas, com notas de violeta e kirsch.
Chiroubles:
São as vinhas mais altas do Beaujolais. Vinhedos em encostas dispostas em círculos de granito cuja série de vales em forma de anfiteatro proporciona às vinhas uma ótima exposição. Estas (muitas vezes em encostas com declives superiores a 30%), uma garantia de temperaturas frescas face à atual mudança climática. Os produtores de Chiroubles são frequentemente considerados “heróicos”, dado o quão fisicamente exigente e meticuloso é o trabalho nas encostas acidentadas. É conhecido por seus vinhos leves e elegantes, com notas florais e de frutas vermelhas.
Fleurie:
Como o nome sugere, Fleurie produz vinhos com um caráter floral distinto, juntamente com sabores de frutas vermelhas. Os vinhos são conhecidos por sua elegância e delicadeza. São os mais delicados dos crus. São cultivados em colinas verdejantes. Acabou de solicitar o reconhecimento de 1er Cru para 7 dos seus 48 lieux-dit. É a primeira apelação de Beaujolais a buscar a distinção.
Moulin-à-Vent:
Este é frequentemente considerado o mais prestigioso dos crus de Beaujolais. Os vinhos de Moulin-à-Vent são robustos e complexos, com uma boa capacidade de envelhecimento. Um cru bastante especial. O moinho de vento (moulin) – com 278 metros de altitude, rodeado de vinhas – incorpora o prestígio e o orgulho da pequena denominação. Depois de alguns anos, os vinhos Moulin-à-Vent desenvolvem aromas de íris, rosas murchas, especiarias e frutas maduras com notas de vegetação rasteira e trufas, proporcionando vinhos tânicos e estruturados. Quando jovens, possuem aromas florais e frutados, com aromas de violeta e cereja.
Juliénas:
Este cru produz vinhos encorpados e frutados, com notas de pêssego, ameixa e cereja. Alguns vinhos também podem apresentar notas de especiarias e minerais. A altitude média varia, começando em 230 metros e chegando a 430 metros no extremo noroeste. O AOC definitivamente tem um dos solos mais diversos do Beaujolais: xisto, diorito e arenito, além de argila. Sutilmente picante, esta denominação faz jus ao seu nome, que herdou do Imperador Júlio César.
Saint-Amour:
Esse é o cru mais ao norte e próximo da Borgonha. Os seus solos mistos incluem granito, xisto e argila, produzindo vinhos com duas características distintas. Um é leve e fácil de beber, com aromas de íris ou violeta e até framboesa. O outro é poderoso e complexo, oferecendo aromas de kirsch e especiarias.
Chénas:
O menor dos crus, Chénas é conhecido por seus vinhos robustos e elegantes, com notas de frutas vermelhas e pequenos frutos pretos, flores e especiarias realçadas por taninos suaves e flores. Foi nomeado após as antigas florestas de carvalho que anteriormente cobriam a comuna, desmatadas pelos romanos e depois pelos monges locais. As videiras se estendem por colinas e vales.
Cada um desses crus traz uma expressão única do terroir e da uva Gamay. Para quem ama vinhos, explorar os diversos perfis pode ser uma experiência enriquecedora e deliciosa.
Sobre o autor:
Marcelo Vargas é professor e pesquisador em vinhos. Atua como docente de sommelier na ABS-RS, na pós-graduação da Università di Camerino (Itália) e PUCRS. É coordenador do MBA em Negócios e Marketing do Vinho na ESPM. Pesquisador do Centro Italiano di Analisi Sensorial para projetos nas áreas de análise sensorial, consumer science e Neurociência Aplicada. Diretor de pesquisas da Sensory Business. Mais de 15 anos de experiência em multinacionais nas áreas de alimentos e bebidas.
コメント